A história Shaka Zulu, líder
africano que expandiu a nação zulu, num feito comparável a Alexandre o Grande,
mas também terminou sua vida como ditador insano.
O potentado Zulu tem início com o
reinado de Shaka, filho do chefe Senzanga Khoma, de um dos clãs mais fortes dos
Zulus, que engravidara Nandi, uma mulher Lengani, que se tornou por isso sua
terceira esposa. Mas ela era desagradável e pouco dócil, acabou sendo rejeitada
junto com o filho, e voltou para os Lenganis, onde Shaka cresceu acalentando o
sonho de se tornar Rei dos Zulus, e expandir o império.
A INFÂNCIA
O menino cresceu arrogante e
antipático, e foi por isso marginalizado pelos outros meninos Lenganis, mas se
tornou forte e um grande guerreiro. Shaka era o nome que os Zulus davam a um
parasita intestinal; quando Nandi engravidou, de desagradável que era na tribo
diziam que ela não estava grávida, apenas tinha um shaka na barriga. Vindo ao
mundo, o parasita shaka, continuou sendo Shaka.
O ano de 1802 foi um ano de seca
e fome. O Rio Umfolozi, secou e a fartura que trazia ao vale que o abrigava e
às margens, desapareceu. Com a escassez de alimentos o chefe Longani decidiu
expulsar do Kraal[2] todas as pessoas indesejáveis, entre as quais se
encontravam Nandi e o filho Shaka.
NOVO EXÍLIO
Exilados partiram para as terras
do sul, aonde chegaram ao reino de Dingiswayo, o mais importante dos chefes do
sul que, ao ver Shaka e N'Xumalo, um exilado voluntário do clã Sixolobo, que se
tornou seu único companheiro entre os Lenganis. O chefe adivinhou neles grandes
guerreiros; eram fortes e mostravam destreza no uso das Azagaias[3],
considerou-os bem vindos ao seu regimento. Nos anos seguintes, Shaka e N'Xumalo
ganharam grande experiência em guerras e campanhas que ampliaram o território
de Dingiswayo.
O GUERREIRO
Shaka começou a desenvolver
técnicas pessoais de Guerra e Teoria de Combate!Discordava dos grandes
agregados -- mulheres e crianças -- que acompanhavam o destacamento,
denunciando à distância a aproximação, e dando a conhecer aos inimigos a
disposição das tropas a todos os momentos, aguardando apenas o momento mais
propício para o confronto. Não apreciava os rituais que antecediam as batalhas
e dos lugares escolhidos -- com encostas suaves, para melhor apreciação dos
espectadores.
Ele não concordava com os
arremessos das azagaias à distância, que permitiam a esquiva dos adversários.
Discordava dos embates pouco contundentes, quando os dois exércitos estavam já
desarmados, e da benevolência do vencedor, capturando apenas algum gado e umas
quantas mulheres. Reprovava o uso de sandálias de couro de vaca pelos
guerreiros, artefato que, no seu entender só tolhia a mobilidade em combate.
Achava inclusive as azagaias impróprias para a luta. Preferia o uso de adagas
para o corpo a corpo.
Em segredo Shaka treinou com
N'Xumalo ataque e defesa, força, destreza e luta corpo a corpo. Quebrou uma
lança e encomendou ao forjador da tribo uma arma com o tamanho da metade da
lança e o dobro do tamanho de parte cortante: uma Adaga!
A PRIMEIRA BATALHA
Em 1815, num confronto banal com
os Butelezis, Shaka demonstrou o que e como queria que fosse uma guerra. No
ritual inicial em que um ou dois guerreiros se adiantam para trocar insultos,
ele inesperadamente levantou-se e correu descalço para o adversário. Com o seu
escudo, Shaka enganchado no do adversário, expôs-lhe o peito e mergulhou nele a
adaga curta. Arremeteu depois para as fileiras de vanguarda dos Butelezis, e
junto com ele, todo o regimento Izicwe. Foi um massacre. Dezenas de inimigos
mortos e de mulheres capturadas, centenas de cabeças de gado apreendidas.
MORTE DO PAI
Em 1816 o pai de Shaka, chefe dos
Zulus morreu. Shaka removeu o filho destinado à sucessão e assumiu o comando do
clã que tinha cerca de 1.300 pessoas e 300 guerreiros. Era um clã inexpressivo,
menor que a maioria dos outros clãs, como os Sixolobos e os Lenganis, e que não
expandira o seu território nos últimos cem anos.
Tão logo ele assumiu o comando,
uma das suas primeiras providências foi mandar os guerreiros jogar fora as
azagaias tradicionais substituindo-as por adagas, proibiu o uso de sandálias e
treinou as tropas no endurecimento das solas dos pés, fazendo-os dançar sobre
espinhos e pedras batendo os pés com força no chão, até que as solas dos pés
estivessem mais duras do que couro. Os guerreiros que não agüentavam e
fraquejavam neste treinamento, eram mortos.
Aumentou o tamanho dos escudos
quase à altura de um homem, e treinou com os guerreiros: defesa e ataque corpo
a corpo, com as técnicas que aperfeiçoara com N'Xumalo.
ESTRATÉGIA CORPO-BRAÇO-CABEÇA
Shaka Instituiu a técnica de
combate “corpo-braços-cabeça”, em que o corpo era a grande concentração de
tropas central, e a única que os inimigos podiam ver, os braços eram dois
grupos de envolvimento rápido que atacavam pelos flancos, e a cabeça, um
regimento que, nos dois primeiros estágios de qualquer batalha -- início com o
embate frontal do corpo e o segundo - era o ataque dos braços pelos flancos - -
ficava escondido por uma colina e de costas para a luta, ver a batalha. No
momento adequado recebiam a ordem de ataque, que cumpriam sem pensar e sem
tentar adequar-se à situação. Velocidade, rapidez na comunicação e astúcia eram
os outros trunfos da estratégia.
Shaka e N'Xumalo formavam uma
dupla fantástica; onde ele era um planejador criativo e o amigo era um executor
implacável.
Uma manhã de 1816, Shaka reuniu
os seus quatro esquadrões numa formação de quadrado oco. Inflamou os ânimos dos
guerreiros com palavras de incentivo, enquanto estes batiam os pés no chão com
violência -- à dança que caracterizaria para sempre os Zulu. Cada esquadrão era
distinguido por diferentes cores dos panos de cabeça e pelos couros de gado dos
escudos.
AS BATALHAS
Na batalha contra os Lenganis,
Shaka ordenou uma marcha silenciosa. Na manhã seguinte o clã adversário acordou
cercado por guerreiros Zulus. Foi à vingança contra o clã que expulsara a mãe e
ele há anos atrás. Todos os desafetos pessoais foram empalados por estacas de
bambu, e depois de horas de sofrimento, queimados ainda vivos. Os chefes apenas
tinham o pescoço quebrado, numa morte rápida e sem sofrimento, e no final,
absorveu os regimentos Langani no seu exército.
Quando chefe Dingiswayo morreu,
numa batalha contra uma tribo do norte, todo o contingente Izicwe se uniu aos
Zulus. Shaka se movimentava com uma velocidade devastadora, dominando os
pequenos clãs, cujos chefes eliminavam e cujas forças militares agregavam às
suas.
A batalha contra os N'Gwane, os
apagou do cenário africano como clã. À vista do Corpo de Ataque Zulu, se
posicionaram em tosca formação de combate, acreditando tratar-se apenas de mais
uma investida por gado e mulheres, em que apenas alguns homens sairiam machucados.
De repente descobriram com espanto que as alas Zulus estavam abertas, como os
chifres de um touro. Os guerreiros Zulus caíram sobre os atordoados inimigos
matando, e quando as forças N'Gwane tentaram se reagrupar para resistir, do
nada apareceu à cabeça do exército de Shaka, as adagas totalmente sem
clemência.
Os guerreiros e os velhos foram
mortos -- os Zulus nada viam de errado em ajudar a morrer os que eram idosos ou
doentes -- as mulheres distribuídas entre os Kraal Zulu, e os meninos recrutados
para o exército.
O REINADO DE SHAKA ZULU
Durante o reinado de Shaka, os
homens combatiam dos 14 aos 60 anos, e nenhum guerreiro podia casar ou procriar
antes de lavar a adaga no sangue de inimigos, e somente com seu consentimento,
o que acontecia por volta dos 30 anos. Ele formou um batalhão só de mulheres,
que devia seguir na retaguarda para cuidar da comida, reparar as armas
danificadas e cuidar dos feridos. A regra básica para estes era: “se um Zulu
está ferido, fale com ele. Se ele conseguir compreender o que você disse,
cure-o, se não o mate”. Formou também um outro batalhão de idosos e deviam
trabalhar constantemente.
Em 1832 Shaka já consolidara a
maior parte da sua nação, impondo uma ordem e uma disciplina cuidadosamente
definidas; através de punições brutais, transformara um amontoado de clãs num
reino unificado. Ele praticava um governo tirânico, mas não insano, assegurando
ao seu povo suprimentos de água permanentes e fontes estáveis de alimentos.
Os resultados benéficos do
governo de Shaka eram evidentes. Uma área maior que muitos países europeus e
que estivera desorganizada até então, tornara-se coesa e próspera. As centenas
de tribos e clãs que viveram até ali na base de cada um por si, se proclamavam
agora orgulhosamente de Zulu; era nesta altura uma temida nação de meio milhão
de pessoas. A cidadania dentro da nação atingia a todos por igual, antigos ou
novos integrantes.
A DECADENCIA DE SHAKA
Shaka não tinha descendente que
pudessem suceder-lhe, assim ficou obcecado com a idéia de envelhecer e morrer.
Feiticeiros se aproveitaram desse início de loucura para explorá-lo com
promessas de óleos milagrosos que proporcionavam a imortalidade.
O aparecimento dos primeiros
cabelos brancos detonou um processo de loucura irreversível; a morte da mãe
desencadeou uma onda de crueldade e perseguições terríveis, que abalaram toda a
estrutura ZULU.
Começou por ordenar a morte de
todas as mulheres a serviço de Nandi, a “mulher elefante”, que com ela
compartilharam a tumba, e que, quase todas, eram mulheres de alguns dos seus
melhores e mais confiáveis generais.
A mortalidade gratuita
espalhou-se pelo reino; qualquer pessoa, por rir, espirrar, tossir, se coçar,
sentar, dormir, amamentar ou mesmo comer e beber, podia ser decapitado, acusado
de não demonstrar pesar pela morte da mãe de Shaka.
Turbas frenéticas e assassinas
corriam por todo o reino, para ver se alguém deixava de honrar Nandi. Os
últimos meses de 1827 ficaram conhecidos entre os Zulus, como o tempo das
trevas de Shaka.
A MORTE
Com o caos instituído no reino,
M'Kabay, irmã do pai de Shaka e dois meio irmãos dele, Dingane e M'Halangana,
junto com alguns comandantes militares, conspiraram e planejaram o assassinato
do grande chefe Zulu.
No dia 22 de Setembro de 1828,
vários conspiradores se reuniram, foram ao Kraal de Shaka, e sem que este
pudesse esboçar um gesto de defesa, lhe espetaram fundo e por diversas vezes as
mortais azagaias.
Terminava assim o homem que criou
a Nação Zulu.
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