Começou a sua carreira como
fervoroso comunista, mas criou um regime corrupto e policial.
O vídeo que chocou a Europa foi
filmado no dia de Natal de 1989 e mostrava um casal perplexo, tentando
argumentar perante o tribunal. A mulher era Elena Ceausescu e não parecia
perceber a situação; o homem, Nicolae Ceausescu, o "Génio dos
Cárpatos", entendera desde o início que tinha escassas hipóteses de
sobrevivência. A farsa de julgamento durou duas horas e, nas imagens, ouvimos a
sentença e vemos o ar resignado dos dois condenados à morte.
A cena era familiar para quem
governara a Roménia comunista durante 24 anos. O casal foi levado para execução
sumária. Quase não houve tempo para filmar, tal era o nervosismo dos soldados.
Houve disparos e surgiam os corpos, sobre a neve.
A revolução na Roménia, em 1989,
foi a última a abalar a chamada Cortina de Ferro de países socialistas na
Europa Central. A Roménia era uma ditadura delirante, com omnipresença de uma
polícia política implacável, a Securitate; um estado em que a população
sobrevivia em miséria evidente, num ambiente de corrupção, nepotismo e declínio
económico. A elite comunista tinha acesso a bens importados e vivia em
edifícios de grande ostentação. O mais famoso serve hoje como parlamento, mas devia
ser um palácio para Ceausescu (o maior do mundo) e obrigou a arrasar um bairro
inteiro.
Apesar de ser um dos mais cruéis
ditadores da Europa Central, Ceausescu tinha boa imprensa no Ocidente, pois era
o único dos líderes comunistas que se atrevia a desafiar Moscovo. Quando se
tornou líder, em 1965, seguiu o estilo nacionalista do seu mentor, Gheorghe
Gheorghiu-Dej, que no início dos anos 50 começara a afastar os estalinistas.
Fora da Roménia, a "independência" de Ceausescu parecia uma espécie
de "gaulismo" do Leste.
Pode afirmar-se que a carreira de
Ceausescu não teria sido possível sem uma dose de sorte ou destino, que o
colocou na mesma cela de prisão com Dej, durante a II Guerra Mundial. Ao
contrário do mestre, Ceausescu era um activista pouco sofisticado. Filho de um
sapateiro, aderiu ao Partido Comunista em 1934, aos 16 anos, mas a militância
era difícil num país então sob o regime fascista da Guarda de Ferro. O jovem
Ceausescu era considerado perigoso e foi preso várias vezes. Em 1940, num
período de liberdade, apaixonou-se por Elena. Em 1943, conheceu Dej na prisão,
acompanhando-o nos círculos do poder quando este tomou conta do país. Ceausescu
sucedeu a Dej após este morrer, de pneumonia, em 1965. Líder do partido nesse
ano, ascendeu em 1967 a presidente da Roménia. Tinha poder total.
Nas duas décadas seguintes, os
gestos nacionalistas de desafio a Moscovo não podiam esconder o regime
policial. Ao mesmo tempo, Ceausescu criou um culto de personalidade que se
apropriou do próprio país, mas em 1989 os regimes comunistas da Europa de Leste
foram caindo. Só o romeno resistia. O Inverno desse ano foi difícil e a revolta
começou com um protesto em Timisoara.
Num gesto desesperado, Ceausescu
tentou organizar uma manifestação na capital, mas foi um erro. Em vez de
mostrar força, mostrou fraqueza, pois a multidão começou a assobiá-lo. Os
assobios engrossaram e estalou a revolta. A fuga precipitada, de helicóptero,
mostrou o grau de delírio a que chegara o líder romeno. Elena convenceu os
pilotos a um desvio para recolher jóias num dos palácios. Ao chegarem, os dois
foram presos. Faltavam horas para serem fuzilados.
Fonte:
https://www.dn.pt/gente/interior/vida-e-morte-do-genio-dos-carpatos-1963087.html
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