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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Nicolae Ceausescu

Começou a sua carreira como fervoroso comunista, mas criou um regime corrupto e policial.



O vídeo que chocou a Europa foi filmado no dia de Natal de 1989 e mostrava um casal perplexo, tentando argumentar perante o tribunal. A mulher era Elena Ceausescu e não parecia perceber a situação; o homem, Nicolae Ceausescu, o "Génio dos Cárpatos", entendera desde o início que tinha escassas hipóteses de sobrevivência. A farsa de julgamento durou duas horas e, nas imagens, ouvimos a sentença e vemos o ar resignado dos dois condenados à morte.

A cena era familiar para quem governara a Roménia comunista durante 24 anos. O casal foi levado para execução sumária. Quase não houve tempo para filmar, tal era o nervosismo dos soldados. Houve disparos e surgiam os corpos, sobre a neve.
A revolução na Roménia, em 1989, foi a última a abalar a chamada Cortina de Ferro de países socialistas na Europa Central. A Roménia era uma ditadura delirante, com omnipresença de uma polícia política implacável, a Securitate; um estado em que a população sobrevivia em miséria evidente, num ambiente de corrupção, nepotismo e declínio económico. A elite comunista tinha acesso a bens importados e vivia em edifícios de grande ostentação. O mais famoso serve hoje como parlamento, mas devia ser um palácio para Ceausescu (o maior do mundo) e obrigou a arrasar um bairro inteiro.

Apesar de ser um dos mais cruéis ditadores da Europa Central, Ceausescu tinha boa imprensa no Ocidente, pois era o único dos líderes comunistas que se atrevia a desafiar Moscovo. Quando se tornou líder, em 1965, seguiu o estilo nacionalista do seu mentor, Gheorghe Gheorghiu-Dej, que no início dos anos 50 começara a afastar os estalinistas. Fora da Roménia, a "independência" de Ceausescu parecia uma espécie de "gaulismo" do Leste.

Pode afirmar-se que a carreira de Ceausescu não teria sido possível sem uma dose de sorte ou destino, que o colocou na mesma cela de prisão com Dej, durante a II Guerra Mundial. Ao contrário do mestre, Ceausescu era um activista pouco sofisticado. Filho de um sapateiro, aderiu ao Partido Comunista em 1934, aos 16 anos, mas a militância era difícil num país então sob o regime fascista da Guarda de Ferro. O jovem Ceausescu era considerado perigoso e foi preso várias vezes. Em 1940, num período de liberdade, apaixonou-se por Elena. Em 1943, conheceu Dej na prisão, acompanhando-o nos círculos do poder quando este tomou conta do país. Ceausescu sucedeu a Dej após este morrer, de pneumonia, em 1965. Líder do partido nesse ano, ascendeu em 1967 a presidente da Roménia. Tinha poder total.

Nas duas décadas seguintes, os gestos nacionalistas de desafio a Moscovo não podiam esconder o regime policial. Ao mesmo tempo, Ceausescu criou um culto de personalidade que se apropriou do próprio país, mas em 1989 os regimes comunistas da Europa de Leste foram caindo. Só o romeno resistia. O Inverno desse ano foi difícil e a revolta começou com um protesto em Timisoara.


Num gesto desesperado, Ceausescu tentou organizar uma manifestação na capital, mas foi um erro. Em vez de mostrar força, mostrou fraqueza, pois a multidão começou a assobiá-lo. Os assobios engrossaram e estalou a revolta. A fuga precipitada, de helicóptero, mostrou o grau de delírio a que chegara o líder romeno. Elena convenceu os pilotos a um desvio para recolher jóias num dos palácios. Ao chegarem, os dois foram presos. Faltavam horas para serem fuzilados.

Fonte:
https://www.dn.pt/gente/interior/vida-e-morte-do-genio-dos-carpatos-1963087.html

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