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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Guiné-Bissau: Batalha de Guidade

Guiné-Bissau: Batalha de Guidade, uma das mais dramáticas da guerra colonial

A batalha de Guidage, norte da Guiné-Bissau, representou um dos momentos mais críticos das campanhas militares mantidas pelo Estado Novo nas frentes do antigo Ultramar (Angola, Moçambique e Guiné) entre 1961 e 1974.
A emboscada protagonizada pela então guerrilha do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) vitimou os três soldados pára-quedistas que serão sábado, 35 anos depois, alvo de uma última homenagem e sepultados nas suas localidades de origem.



A Guiné era, do ponto de vista militar, a mais crítica das frentes das guerras coloniais e a situação no território agravou-se de forma dramática no primeiro semestre de 1973.
Dono de um potencial bélico largamente reforçado com o apoio soviético e de uma organização militar cada vez mais sólida, o PAIGC lançou uma vasta operação visando o controlo de corredores cruciais para a manobra da guerrilha nas zonas fronteiriças com a Guiné-Conacri (Sul) e Senegal (Norte).
Uma acção em tenaz das forças do PAIGC exerceu forte pressão sobre os aquartelamentos portugueses localizados junto a duas localidades estratégicas - Guilege, no Sul, e Guidage.



Os dois aquartelamentos foram submetidos a intensas flagelações e isolados pelo cerco montado pela guerrilha.
A situação tornou mais crítica quando o PAIGC dispôs de mísseis terra-ar, de fabrico soviético.
Vários aviões portugueses foram abatidos em Março e Abril desse ano, interditando virtualmente o espaço aéreo da Guiné e limitando fortemente o apoio aéreo às forças e as acções de reabastecimento e evacuação de feridos.
O efeito sobre o moral das tropas foi devastador.
Em Guilege, a situação tornou-se insustentável e, a 26 de Março de 1973, a guarnição portuguesa viu-se obrigada a abandonar a posição.



Ocupado o aquartelamento de Guilege, o PAIGC intensificou a sua acção sobre a vizinha Gadamael. É a fase da "Guerra dos 3 G's" (Guidage, Guileje e Gadamael), como depois começou a ser designada entre os militares portugueses na Guiné.
Gadamael resistirá, mas a defesa do aquartelamento obrigará à deslocação das forças que haviam ocupado o vizinho Cantanhez, mítico santuário do PAIGC, ocupado no início desse ano pelo Batalhão de Caçadores Pára-quedidstas 112.
Com as forças de intervenção (pára-quedistas, comandos, fuzileiros) empenhadas nos pontos mais críticos, as reservas operacionais portuguesas ficaram virtualmente esgotadas.
Em Guidage, o cerco apertou-se progressivamente desde o início de Maio. A guarnição portuguesa foi então sujeita a intensas e prolongadas flagelações, que lhe provocaram pesadas baixas.



O cerco do PAIGC tornou extremamente difícil o esforço de reabastecimento pela única via possível, uma estrada que conduzia ao ponto de apoio mais próximo, em Binta, a uma distância de 30 quilómetros.
A situação na frente Norte tornou-se, então, cada vez dramática.
A 18 de Março, o Batalhão de Comandos Africanos lançou uma operação de assalto à base de Kumbamory, junto à fronteira com o Senegal e principal ponto de apoio do PAIGC na região, que acabaria por fracassar no objectivo de aliviar a pressão da guerrilha sobre Guidage.
Era preciso a todo o custo romper o cerco a Guidage.
A 23 de Maio, quando ainda se retirava da zona de operações do Kumbamory, onde apoiou a acção dos Comandos, a Companhia de Caçadores Pára-Quedistas 121 recebeu ordens para se deslocar com urgência para Binta, na margem Norte do Rio Cacheu, a fim de escoltar uma coluna de reabastecimento que tentava atingir Guidage.
Já perto de Guidage, a "121" caíu numa forte emboscada do PAIGC e, de imediato, três soldados portugueses cairam sob o fogo inimigo.
Um quarto seria ainda evacuado de helicóptero para Bissau, onde acabou por morrer .


Após 50 minutos de intenso combate, as forças do PAIGC foram desalojadas das suas posições, permitindo que o cerco a Guidage fosse finalmente rompido, mas a um preço elevado.
Dada a situação militar extremamente crítica vivida no território, a evacuação dos restos mortais dos militares tornou-se impossível e o lema "ninguém fica para trás" náo se cumpriu .
Os restos dos três soldados foram inumados num pequeno cemitério de campanha estabelecido entre as duas redes de arame farpado do aquartelamento.
A transladação para Portugal dos restos dos três soldados vem culminar um esforço iniciado há dois anos por familiares de uma das vítimas e pela Liga dos Combatentes, em que se conjugaram o empenho da União de Pára-quedistas Portugueses e o desejo das famílias .



Trata-se dos três primeiros militares mortos em combate cujos restos mortais são resgatados no âmbito do programa "Conservação das Memórias", lançado há dois anos pela Liga dos Combatentes.
O projecto visa exumar e concentrar em alguns cemitérios (em princípio em África) os restos mortais de todos os militares ali falecidos no decorrer da guerra colonial e que estão dispersos por centenas de locais.

FONTE:
http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/82041aec5ba95a4cd94f9e.html

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