IMPERDIVEL

sábado, 5 de maio de 2018

Maria Lamas (Torres Novas, 1893 - Lisboa, 1983)

Maria Lamas 

Nasceu no fim do século XIX (1893), numa pacata vila da província portuguesa do Ribatejo, em Torres Novas, e viveu quase todo o século XX. Morreu em Lisboa, em 1983, com noventa anos por fazer. Filha de pai republicano e maçon, que a orientou nas leituras, e de mãe católica e muito piedosa, teve duas irmãs e um irmão mais velho, Vassalo e Silva, que viria a ser o último Governador da Índia Portuguesa.



Militou civicamente e convictamente por uma plena igualdade das mulheres, igualdade que defendia baseada na educação e na independência económica, através do exercício de uma profissão ou de um ofício. Quando o século XX chegou, encontrou-a num colégio de freiras espanholas, as Teresianas, que lhe deixaram marcas perenes do cristianismo universal e misticismo erudito. Muito nova, casa por amor, (1911) com um jovem oficial do exército republicano (Teófilo Ribeiro da Fonseca). Grávida, não hesita em acompanhar o marido, em missão num presídio militar, no inóspito interior de Angola. Regressa a Portugal (1914) porém, sozinha, com uma filha pela mão e já de novo grávida, disposta ao divórcio e a lutar pela vida, o que fez desalmadamente.

Foi uma das primeiras mulheres jornalistas profissionais, iniciando-se na Agência Americana de Notícias pela mão da jornalista Virgínia Quaresma, com salário, horário e hierarquia. Volta a casar (1921) com um colega de profissão, monárquico (Alfredo da Cunha Lamas), num casamento algo turbulento que dura pouco, embora fique para sempre com o apelido Lamas, e com uma dedicadíssima filha (1922-2007), Maria Cândida Caeiro.

O bem e a verdade. A igualdade e a felicidade. A liberdade e a justiça. A fraternidade. São valores pelos quais luta, abnegadamente. Inclui a seriedade e a sinceridade. Fala insistentemente no direito à felicidade. Quer uma sociedade mais justa, uma democracia plena, “uma política humana”. Tem fé no progresso e na humanidade. Foi uma humanista convicta. A luta pela dignificação e a emancipação da mulher, causa que sempre perseguiu, em várias frentes, inscreve-a na luta geral pelos direitos humanos. Fez da exigência intelectual uma característica específica do feminismo português, consagrada explicitamente no Programa do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), divulgado em 1946; era, então, Presidente eleita dessa Associação Feminista, criada em 1914, pela médica obstetra Adelaide Cabete. Integrou esta Associação com cargos de coordenação, desde 1936.

Escreveu poemas (Os Humildes, 1923), crónicas, novelas, folhetins, reportagens, (As Mulheres do Meu País, 1947-1950), recensões, romances (Para Além do Amor, 1935; Caminho Luminoso, 1927; Ilha Verde, 1938), textos para crianças, textos para adolescentes (é imensa a sua produção infantojuvenil) e textos sobre as mulheres, “escravas milenares de erros milenares”. Tem textos autobiográficos, tinha consciência biográfica e foi, também, uma memorialista (Revista das 4 Estações, primavera, “O Despertar de Sílvia”, 1949). Conheceu e conviveu com a generalidade das feministas portuguesas de então, nomeadamente, Adelaide Cabete, Sara Beirão, Elina Guimarães, Maria Emília Sousa e Costa,Virgínia de Castro e Almeida, Deolinda Quartim e tantas outras. Era amiga de Branca de Gonta Colaço e Manuela de Azevedo.

Traduziu, entre outras obras, As Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar, Francisco Goya, de Eric Porter, A vida Apaixonante de Dostoiewsky, de Ahanassidis, O Feiticeiro de Oz, de L.Baum L.Frank.

No jornalismo, dirigiu a Revista Modas e Bordados (1928-1947), um Suplemento semanal do Jornal O Século, ali no Bairro Alto de Lisboa, então, o bairro da Imprensa, durante quase 20 anos, e onde entrou pela mão do escritor e jornalista Ferreira de Castro, Exerceu o jornalismo na Revista Civilização, dirigida por Ferreira de Castro, onde criou também o “Reino dos Miúdos”, destinada ao público infantil. No Modas, regista alguns feitos de excelência e de exceção, memoráveis, embora nunca tenham passado para a História da Cultura ou da Imprensa, até surgirem os Estudos sobre as Mulheres:

– a realização de uma grande Exposição da Obra Feminina Antiga e Moderna…(1930) que ocupou, durante dois meses, onze salas, de O Século constituindo o primeiro inventário da criação e criatividade feminina, numa iniciativa nunca igualada(há catálogo);

– a realização de uma grande Exposição de Livros Escritos por Mulheres (1947), três mil livros de mil e quatrocentas mulheres autoras de trinta países do mundo, que encheram o grande Salão de Belas-Artes. Uma exposição breve (durou apenas uma semana), dada a repressão da ditadura. Uma iniciativa inédita e internacional (há catálogo);

– a realização de uma monumental reportagem sobre As Mulheres do Meu País (1950) publicada em fascículos, que representa um trabalho de campo de perto de dois anos, pelo País, de Norte a Sul, um livro-álbum impar, de luxo, durante mais de 50 anos, nunca reeditado.


Em 1952 publica dois tomos (mais 600 páginas cada) sobre A Mulher no Mundo, ainda hoje uma obra de referência, em que realiza a história comparada do estado dos feminismos em todo o mundo, através de exaustiva consulta historiográfica, recenseando centenas de obras.

Outros feitos jornalísticos não menores: um jornalzinho para as crianças (O Pintainho, 1925); uma breve e inovadora revista para as jovens portuguesas (A Joaninha, 1936) com um correio de leitoras, que transitou para a Revista, um famoso correio, duradouro e prolongado, o “Correio da Tia Filomena” (1937-1947) e outras, tantas outras realizações de fôlego e de vulto, com todo o encanto e inteligência que punha nas iniciativas que tomava. Em 1934 recebeu a Ordem Militar de Santiago de Espada.

A sua atividade libertadora de consciências e de identidade e de intervenção cívica era muita. Comunga ideais e atividades com corajosos portugueses oposicionistas. Nos anos 40, adere ao Movimento Democrático Nacional (MDN) e ao Movimento de Unidade Democrática (MUD). Participa ativamente na Campanha do General Norton de Matos à Presidência intervindo sempre também em outras campanhas eleitorais. As suas atividades eram consideradas subversivas e o seu trabalho junto das mulheres foi considerado dispensável. Perseguida pela ditadura, presa, por três vezes, parte para o exílio, por duas vezes, em Paris,”uma cidade onde andar na rua é como andar numa universidade”. No exílio, o mais longo durou de junho de 1962 a dezembro de 1969, muito depois dos 60 anos de idade, conhece um período intenso e solidário de cidadania democrática internacional, em tempos de Guerra Fria. Acolhia, participava e intervinha na generalidade das atividades da Oposição Portuguesa à Ditadura, tendo conhecido os maiores vultos políticos nacionais e internacionais do século XX.

Nos anos 50 e 60, correu o mundo em Congressos, Seminários e Conferências pelos Direitos das Mulheres e pela Paz cuja Comissão Nacional dirigiu, numa militância incansável, normalmente com estatuto de delegada e dirigente. Conheceu, então, só então, muitos países, muitos povos muitas culturas. Em Paris, viveu sempre, em contacto com o mundo, num pequeno e modestíssimo quarto de um simpático Hotel, em pleno Quartier Latin, o bairro dos estudantes, como se fosse um deles. Da sua janela, assistiu, empolgada, a muitas manifestações do maio de 68.

De regresso a Portugal, em 1969, será alvo de uma homenagem, promovida pelo jornal República, na Casa da Imprensa. A primeira homenagem promovida pelos seus pares foi em 1947, na Casa do Alentejo, quando sai do Modas e Bordados e fica sem emprego à vie, e sem casa própria. Adere, pela mão de sua filha Cândida, aos 80 anos, após o 25 abril de 74, ao Partido Comunista Português. Foi eleita Presidente Honorária do Movimento Democrático das Mulheres. Foi Diretora Honorária da Revista Modas e Bordados, e, mais tarde, da Revista Mulheres. Em 1980 é agraciada com o Grau de Oficial da Ordem da Liberdade. Em 1982 é homenageada pela Assembleia da República. Em 1983 recebe a Medalha Eugénie Cotton, da Fédération Démocratique Internacionale dês Femmes (FDIM).

Como herança intelectual deixou muita obra feita e um nome respeitado e prestigiado na História do Portugal Contemporâneo e na História das Mulheres que começou a fazer e a escrever, sendo na área, também, uma investigadora pioneira. Na História da Imprensa Feminina tem lugar cativo e de relevo, também como repórter fotográfica, embora pontualmente. Nunca se declarou feminista, embora o fosse.

Maria Lamas, um nome de mulher, no mundo dos homens, uma investigadora autodidata, na história das Mulheres do Portugal contemporâneo. Uma mulher que fez história, foi uma combatente e uma lutadora resistente, que entrou na História como cidadã e que escreveu História como autora. Uma portuguesa, notável, uma cidadã europeia do século XX.

Fonte:
http://cvc.instituto-camoes.pt/seculo-xx/maria-lamas-dp16.html#.WumuJ4gvyUk

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Antónia Rodrigues - a amazona de Aveiro

No início do século XX, a Rua de São Roque, no casco histórico de Aveiro, passou a chamar-se Rua Antónia Rodrigues. Ainda lá está a placa justificativa da mudança toponímica: “A célebre Antónia de Aveiro que, fugindo de casa aos 15 anos, foi, vestida de homem, combater gloriosamente os Mouros em Mazagão, onde obrou prodígios de valor, conservando durante anos, com a sua virtude, o segredo do seu sexo.” Por exemplo, apertando com um pano os seios contra o peito.



Mas o ceticismo sobre a existência de tal figura durou décadas. Desses desconfiados, o vereador da Cultura da Câmara de Aveiro, Capão Filipe, habituou-se a ouvir, em tom sarcástico, que “cada país teve a sua Joana d’Arc”, como conta à VISÃO. A descrença, porém, foi deixando de fazer sentido.

O primeiro a atacar os céticos foi o artista plástico Marcos Muge. Em 2001, criou e pintou um painel de azulejos de 4,50 por 2,40 metros, em homenagem a uma “mulher à frente do seu tempo”. O artista estudou a indumentária militar da época (fins do século XVI) e, sobretudo, a Descrição do Reino de Portugal, texto publicado em 1610. A obra é de Duarte Nunes de Leão, contemporâneo de Antónia Rodrigues, e relata com riqueza de pormenores a vida 
e os feitos da heroína aveirense, confirmando o que está resumido na placa toponímica – hoje muito degradada.

Marcos Muge só por duas vezes teve oportunidade de exibir o seu painel de azulejos em Aveiro, a última das quais em 2010. “Como Antónia Rodrigues veio do povo, não é lembrada, na cidade, com uma obra plástica digna”, critica. Pouco depois, ouvimos uma frase idêntica: “Era uma mulher do povo e, por isso, não faz parte das narrações da História”, diz Mário Silva Carvalho, autor do romance A Amazona Portuguesa (Saída de Emergência, 256 págs., €16,60), lançado recentemente. Lê-se na capa que a obra é inspirada na “história verídica de uma jovem que, disfarçada de rapaz, conquistou honras e regalias no Exército português”, ou seja, Antónia Rodrigues.

POBREZA E GLÓRIA
Antónia nasceu em março de 1580 numa casa pobre de pescadores, fora das muralhas da vila de Aveiro. Tinham passado quase dois anos sobre a trágica derrota de Alcácer-Quibir, na qual morreu o rei D. Sebastião, solteiro e virgem. Na atribulada crise sucessória que se seguiu, o rei de Castela, Filipe II, seria designado rei de Portugal, sob o título de Filipe I.

A menina seria, aos nove anos, entregue aos cuidados da irmã mais velha, Inácia, que se casara com um carpinteiro naval e vivia num cubículo em Lisboa. Em 1610, Duarte Nunes de Leão relatava a “aspereza” e o “mau tratamento” de Inácia para com a irmã mais nova. Aos 15 anos, com algum dinheiro ganho em biscates, comprou roupa masculina e, num casebre abandonado, vestiu-a. Depois, com uma tesoura surripiada à irmã, desfez-se das tranças castanhas alouradas e ajeitou o corte de cabelo ao dos grumetes. De seguida, conseguiu embarcar numa caravela que transportava trigo para Mazagão, dizendo chamar-se “António Rodrigues”. Mas, quando o barco fundeou em Setúbal, 
o novo grumete testemunhou, à noite, que o mestre e a tripulação desviavam parte do cereal para botes que se encostaram ao navio. Detetado o ilícito após a chegada à praça-forte, o “rapaz” confirmou-o às autoridades, sem identificar os autores. O governador, D. Diogo Lopes de Carvalho, entendeu que o grumete não devia voltar à caravela. Temia que, “na primeira noite de mar”, o mestre o destinaria a “pasto para peixes”. Ficava melhor como praça da guarnição de Mazagão

Licenciado em História, Mário Silva Carvalho mergulhou ao longo de quase quatro anos na busca de documentos sobre a destemida aveirense (outro exemplo: o livro Theatro heroino – Abcedario historico, e catalogo das mulheres Illustres em Armas, Letras, Acçoens Heroicas, e Artes Liberaes, do Frei João de São Pedro, publicado em 1736). E acabou por escrever um romance em que é ténue a fronteira entre a ficção e o rigor histórico. Mas o documento crucial da obra é o Alvará de Mercê do rei Filipe II que, em dezembro de 1602, concede uma tença (pensão) vitalícia de “cinco mil réis” por ano “a Antónia Rodrigues”, pelos feitos que durante cinco anos alcançou na praça-forte de Mazagão, em Marrocos, enfrentando os ataques diários dos mouros, como “espingardeiro de cavalo e de pé, em trajos de soldado”.

Naquele ano, a nossa heroína foi obrigada a despir a carapaça com a qual teve artes de enganar, nas casernas, “homens belicosos, beberrões, gabarolas e brigões”, como descreve Mário Silva Carvalho. Sucedeu que a filha de um nobre se apaixonou perdidamente pelo cavaleiro-sargento António Rodrigues e, na ausência de correspondência amorosa, caiu à cama doente, recusando alimentar-se. O governador da praça-forte, D. Diogo Lopes de Carvalho, coagiu-o a casar-se com a jovem. E Antónia Rodrigues entregou-se, em confissão, ao padre Malafaia, que acabou por conseguir amenizar a ira inicial das autoridades e que a urbe (cerca de dois mil habitantes, 500 dos quais militares) a amnistiasse.

Ainda em Mazagão, Antónia casar-se-ia, em 1603, com um oficial, de quem teve um filho. Em 1607, regressou a Lisboa com a família. Depois, já viúva, ingressou na corte, em Madrid, de Filipe II (III de Espanha). Com a morte do monarca, em 1621, sentiu-se marginalizada pelo sucessor e voltou a Portugal. Aqui, perde-se o seu rasto. Terá morrido em 1641 ou 1642, com 61 ou 62 anos. Mas, no seu romance, Mário Silva Carvalho dá-lhe um final glorioso – que, claro, não desvendamos.

Fonte:
http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2018-02-24-Aqui-se-conta-a-incrivel-vida-de-Antonia-Rodrigues-a-amazona-de-Aveiro

terça-feira, 24 de abril de 2018

Genocídio cambojano

O genocídio cambojano foi promovido pelo governo comunista do Khmer Vermelho, liderado por Pol Pot no Cambodja, entre 1975 e 1979. Esse genocídio foi uma das consequências das acções tirânicas impostas no período com a aplicação de uma utopia agrária, que resultou em uma violenta repressão, marcada por trabalhos forçados, torturas e execuções. Estima-se que, pelo menos, 1,5 milhão de pessoas tenham morrido durante essa época nesse país asiático.



Khmer Vermelho e Pol Pot

O Khmer Vermelho era um dos partidos que haviam sucedido o antigo Partido Comunista da Indochina. Desde as eleições de 1955, que garantiram o governo a Norodum Sihanouk, Pol Pot, membro do Khmer Vermelho, passou a defender a tomada do poder no Camboja a partir da luta armada.

Ao tornar-se líder desse partido em 1960, Pol Pot, na clandestinidade, passou a buscar apoio para organizar uma guerrilha para colocar em prática seus objectivos quanto ao país. Durante essa época, foi iniciada uma rebelião contra o governo de Sihanouk, no entanto, foi a ocorrência de outros dois eventos determinantes que possibilitou levar o Khmer Vermelho ao poder do Cambodja.



O primeiro evento foi o golpe militar, liderado por Lon Nol e apoiado pelos Estados Unidos, contra o governo de Sihanouk em 1970. Esse golpe fez com que Sihanouk formasse uma coalizão com o Khmer Vermelho para que, juntos, derrubassem o governo de Lon Nol. O outro evento foi marcado pelos bombardeios realizados pelos Estados Unidos no Camboja, como desdobramento da Guerra do Vietnã.

O fortalecimento do Khmer Vermelho a partir desses dois eventos intensificou a guerra civil no país e possibilitou a esse partido tomar o poder em 1975, quando foi conquistada a capital, Phnom Penh. Com isso, Pol Pot assumiu o governo e colocou em prática sua utopia agrária, que iniciou um período de repressão, torturas e execuções no Cambodja.

Durante os anos em que Pol Pot esteve no poder, foi realizado o esvaziamento das cidades cambojanas a partir da migração da população para fazendas coletivas, onde era submetida a um regime de trabalho forçado. Além disso, houve o fechamento de hospitais, escolas, bibliotecas e monastérios, entre outros, bem como foram abolidos a propriedade privada, os salários e foi iniciada uma intensa perseguição contra minorias étnicas e grupos intelectualizados da sociedade.

Genocídio cambojano

Com a instituição do governo comunista sob a liderança de Pol Pot, foi imposta uma utopia agrária que promoveu o esvaziamento das cidades cambojanas e obrigou a população a instalar-se em fazendas colectivas, onde devia trabalhar durante quase todo o dia. Muitas pessoas migravam constantemente por ordens do Khmer Vermelho e eram obrigadas a realizar longas caminhadas.



O governo cambojano também promoveu o fechamento e isolamento total do Camboja, com as fronteiras e embaixadas estrangeiras fechadas. Todos que soubessem falar algum idioma estrangeiro eram presos e poderiam ser mortos. Além disso, professores e estudantes universitários eram perseguidos. Pessoas que demonstrassem características de ocidentalização também eram presas pelo governo.

Houve ainda expurgos internos no Khmer Vermelho. Membros que manifestassem discordância quanto às decisões tomadas por Pol Pot ou membros do partido que mantivessem contato com o Partido Comunista Vietnamita eram presos. No começo da década de 1970, por exemplo, cerca de 900 membros do partido que possuíam laços com comunistas vietnamitas foram presos.

Além disso, as minorias étnicas existentes no Camboja foram alvo da repressão do Khmer Vermelho. Nessa época, cerca de 15% da população cambojana pertencia a alguma minoria étnica existente no país, formada por vietnamitas, chineses e pelos cham.

O governo de Pol Pot realizou a expulsão de mais de 100 mil vietnamitas do país e promoveu o que foi caracterizado com um sistemático genocídio racial: de 10 mil a 20 mil vietnamitas foram mortos, o que correspondia praticamente à totalidade das pessoas dessa etnia que haviam permanecido no país.



Os chineses também foram um grupo que foi intensamente perseguido. Identificados como o estereótipo dos trabalhadores urbanos pelo Khmer Vermelho, os chineses foram sujeitos a condições piores que o restante da população. Portanto, essa perseguição a esse povo não aconteceu por questões raciais, mas por ser identificado com o trabalho urbano. Estima-se que mais de 200 mil chineses tenham morrido em consequência das péssimas condições a que foram sujeitos.

Os cham, outra etnia existente no Camboja, foram proibidos de utilizar seus trajes típicos, falar seu próprio dialeto e praticar sua religião, o islamismo. Milícias do Khmer Vermelho atacavam sistematicamente aldeias habitadas pelos cham e promoveram a destruição de cerca de cem delas. Ao todo, aproximadamente 100 mil cham morreram nesse período.

Grupos religiosos no Camboja também foram perseguidos, principalmente os budistas. Monastérios budistas foram fechados pelo governo, seus monges foram presos e milhares desses religiosos foram mortos. A perseguição ao budismo fez com que, em 1977, já não existisse nenhum monastério em funcionamento no país. Outras religiões minoritárias também sofreram repressão.

A tirania imposta por Pol Pot no Cambodja encerrou-se em janeiro de 1979, quando o governo cambojano foi derrubado após o país ser invadido pelo exército vietnamita. Com o fim do seu governo, foi possível precisar as consequências dele para o país. As estimativas apontam que, pelo menos, 1,5 milhão de pessoas morreram, número que pode ainda ter alcançado 2,5 milhões.

FONTE:
https://historiadomundo.uol.com.br/idade-contemporanea/genocidio-cambojano.htm

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Amélia Santos

Amélia Santos foi uma popular lisboeta que veio em defesa dos revolucionários republicanos durante a Revolução Republicana de 5 de Outubro de 1910. Juntando-se aos revoltosos barricados na Rotunda, pegou em armas e lutou a seu lado, tornando-se uma heroína da causa, ilustrada em postais da época. Assumiu-se republicana desde sempre, em segredo, por "[haver] quem ache ridículo que as mulheres tenham ideias avançadas".



Juntou-se aos revolucionários por entender ser esse o seu dever, não achando justo que os homens se estivessem a bater pela causa de todos enquanto ela se escondia em casa. Quando rebentaram os primeiros tiroteios, encontrava-se na loja onde trabalhava; tentou convencer vários fregueses a juntarem-se a ela, mas só um, Henrique Nunes, se prontificou a acompanhá-la. Chegando à Rotunda, evitando a Avenida da Liberdade por ser zona de fogo cruzado, foi-lhe vedada passagem por um sentinela: após declarar que ia pegar numa arma, franquearam-lhe a passagem e logo lhe forneceram uma carabina. Não sabendo manejar uma arma, apercebeu-se que muitos homens estavam nas mesmas condições e, com eles, aprendeu depressa. Permaneceu com a espingarda até às 11 horas da manhã, hora a que se deu a última descarga sobre a Guarda Municipal e, daí em diante, trocou a espingarda por um revólver por esta ser muito pesada. No dia 8 de Outubro, de manhã, apresenta-se ao seu "último serviço": com um grupo, vai até à Rua das Trinas, onde prendem um jesuíta.



Na semana seguinte à Implantação da República, é entrevistada para o periódico republicano A Capital. Segundo o repórter, ao dizer-lhe o seu propósito de publicar um artigo sobre si no jornal, "mostrou-se sinceramente indignada e pretendeu convencer-nos de que não dizia uma palavra sobre o assunto", tendo as pessoas da cervejaria Águia, onde se encontravam, de a dissuadir — a partir daí, respondeu desembaraçadamente às perguntas, "com a maior naturalidade como se não tivesse praticado uma das maiores heroicidades da revolução", ainda que tenha manifestado mais uma vez o seu desgosto por ver que o seu nome ia figurar nos jornais. A entrevista acabaria por ser publicada na edição de 14 de Outubro.

Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9lia_Santos

terça-feira, 17 de abril de 2018

Miguel Bombarda

Nasceu em 1851 no Rio de Janeiro.



Foi médico do Hospital de S. José , em 1892, director do Hospital de Rilhafoles e professor, desde 1880, da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Como médico dedicou-se principalmente às doenças do sistema nervoso, especializando-se em Psiquiatria. Participa também no lançamento das campanhas de prolifaxia contra a tuberculose. 

Só em 1908 entrou na política activa, como deputado, afecto ao então presidente do Conselho, Ferreira do Amaral. Mas as suas fortes convicções liberais e anti-clericais aproximam-no rapidamente da Junta Liberal, de que se torna um dos mais destacados dirigentes, e do Partido Republicano, a que adere formalmente pouco antes da implantação da República, sendo eleito deputado nas suas listas. Miguel Bombarda foi um dos principais dirigentes da revolução republicana, com o especial encargo de proceder à distribuição de armas por grupos civis, estando prevista a sua participação no assalto ao quartel de Artilharia 1, em Campolide. 



No dia 3 de Outubro, Miguel Bombarda foi alvejado a tiros de revólver por um oficial do exército, antigo aluno dos colégios da Companhia de Jesus, que o procurou em Rilhafoles. Transportado para o Hospital de S. José, foi operado, 'depois de ter mandado queimar à vista uma carta que trazia na carteira' e falado com Brito Camacho, mas não resistiu à operação, entrou em coma e faleceu cerca das 6 da tarde. 
A morte de Miguel Bombarda provocou especial indignação junto do povo de Lisboa, para quem se tratava de um 'atentado reaccionário'. 

A República organizou as suas exéquias, homenageando-o como um dos seus principais inspiradores.

Fonte:
http://www.fmsoares.pt/aeb/crono/biografias?registo=Miguel%20Bombarda

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Cândido dos Reis

O almirante Cândido dos Reis deveria ter sido o chefe militar da revolução republicana, mas ao julgar que tinha falhado, suicidou-se. Neste ensaio, Rui Ramos explica-nos quem era esta figura trágica.



O almirante Reis é hoje um detalhe toponímico. Nunca foi muito mais, para a maioria dos portugueses. Só depois de morto, o país reparou no seu retrato de ar aparentemente zangado e longos bigodes caídos.

O papel previsto para o almirante (aliás, vice-almirante), na insurreição republicana iniciada em Lisboa à uma da manhã de 4 de Outubro de 1910, era comandar a marinha de guerra, que se esperava fosse a força decisiva da revolução. Nessa noite, porém, tudo correu mal.

Como combinado, o almirante esperou no Cais da Viscondessa transporte para os navios de guerra fundeados no Tejo – os cruzadores S. Rafael, Adamastor e D. Carlos. Vestia farda de gala por debaixo do sobretudo. À hora marcada, não encontrou o barco previsto, acabou por tentar embarcar noutro, que não estava pronto para navegar, e por fim vieram dizer-lhe que tudo falhara. Ter-se-á encontrado a seguir (mas os testemunhos são aqui contraditórios) com alguns líderes republicanos e confirmado, de automóvel, que nada parecia estar a acontecer em Lisboa. Acabou por se recolher à casa de uma irmã, na rua D. Estefânia. Durante a madrugada, concluiu provavelmente que a aventura revolucionária só servira para o comprometer.

Tinha 58 anos, era viúvo, estava reformado (desde Junho de 1909). De manhã cedo, apareceu morto na travessa das Freiras, em frente ao hospital de Arroios. Matara-se com um tiro de pistola.

Uma revolução sem chefes.
O almirante Reis nunca soube que os navios de guerra acabaram mesmo por se revoltar e que umas centenas de sargentos e de soldados insurrectos, acampados na Rotunda (hoje praça Marquês de Pombal), resistiriam o tempo necessário para a monarquia constitucional se desconjuntar. Reis era o “chefe militar” da revolução. Por isso, na Rotunda, Machado Santos, prevendo o efeito desmoralizador do suicídio, não hesitou em esconder a notícia aos seus companheiros. Um outro grupo de revolucionários, reunido no jornal republicano a Luta, fez mais: mandou imprimir um panfleto a anunciar que “o vice-almirante Reis está à frente das tropas da marinha”. Em Lisboa, no dia 4 de Outubro, muita gente acreditou que era Reis quem dirigia a revolução.



Os funerais de Cândido dos Reis, a 16 de Outubro, constituíram as primeiras grandes cerimónias da república. O outro homenageado nessa ocasião foi o médico Miguel Bombarda, considerado o “chefe civil” da revolução. Assassinado por um doente na manhã de 3 de Outubro, Bombarda também não chegou a ver a revolução. A revolução republicana de Outubro de 1910 teve, assim, a estranha sina de perder logo ao princípio os seus dois principais líderes. Alguns correligionários suspeitaram de atentados. No caso de Reis, a hipótese de suicídio foi sustentada por um estudante que lhe dedicou uma tese defendida na Faculdade de Medicina de Lisboa em Dezembro de 1911.

“Sigam-me, se quiserem”

Sem Reis ou sem Bombarda, é muito provável que a revolução republicana não tivesse acontecido em Outubro de 1910. Nas suas memórias, os revolucionários lembram o almirante como um homem sempre exaltado, sempre desesperado com as demoras, as hesitações, os equívocos dos outros conspiradores.

No Verão de 1909, o directório do Partido Republicano encarregara o almirante de recrutar oficiais na marinha e no exército para um golpe armado contra a monarquia constitucional. A conspiração explorou as redes maçónicas a fim de solenizar segredos e cumplicidades. Reis, que era maçon, assumiu até o posto de “inspector da carbonária”. Mas nada foi fácil. Quase todos os oficiais tinham relutância em comprometer-se e, uma vez comprometidos, passavam logo a votar pelo adiamento de todas as iniciativas.

Reis fez então a diferença. Na última reunião dos conspiradores, às oito meia da noite de 3 Outubro, foi o mais decidido. O governo pusera a guarnição de Lisboa de prevenção. Havia quem achasse que tudo devia ser adiado. Reis, extremamente exaltado, contrariou a tendência: “Havendo um só que cumpra o seu dever, esse único serei eu!” E avisou os líderes do Partido Republicano que, se fosse preciso, faria tudo sozinho, sem eles: “Sigam-me, se quiserem!” Toda a gente se calou, e foi só naquele momento que a insurreição se tornou inevitável.

Dissidentes da elite liberal
Reis não era um líder do Partido Republicano, daqueles que andavam havia vinte ou trinta anos na imprensa e em comícios a acusar os reis e os padres. Tinha “ideias republicanas”, como então se dizia, era maçon, dava-se com jornalistas republicanos, mas nada disso o impedira de fazer uma carreira cheia de promoções e de condecorações na marinha, com serviço nas colónias. Como muitos “republicanos teóricos”, talvez tivesse estado disposto a admitir que a monarquia constitucional podia servir para a gradual republicanização do país através da propaganda, que aliás ninguém lhe proibia. Segundo testemunho de João Franco, o rei D. Carlos estimava-o, achava-o um “homem de bem”.

Mas por fim, o almirante convenceu-se da urgência de uma ruptura com a oligarquia partidária que dominava o regime constitucional. Antes de pensar que essa ruptura se devia fazer pela república, parece ter admitido uma “ditadura liberal” encabeçada pelo próprio D. Carlos, a que apelou em 1902. Mas em vez dessa ditadura, apareceu o governo de João Franco, que Reis viu como mais uma manobra oligárquica. Terá sido então, por volta de 1907, que passou a conspirar, mas sempre com o cuidado de ressalvar a hierarquia militar e a preeminência dos oficiais, de modo a manter o máximo de ordem dentro da revolução. Isto é importante para perceber que a república não correspondeu simplesmente ao agigantar de um partido, mas a um sentimento de alienação que se desenvolveu dentro da elite liberal da monarquia e que, à falta de alternativa, encarnou na mitificação de uma nova forma de Estado como meio de redenção nacional.

Miguel Bombarda, o “chefe civil” da revolução de 1910, é mais um exemplo desse movimento de opinião. Bombarda, quase da mesma idade que Reis, também não era militante do PRP. Era um crente na ciência como única base legítima do conhecimento, e como tal inimigo do clero católico tradicionalista, especialmente dos jesuítas. Isso não o impedira de ser deputado da monarquia e de apoiar o primeiro governo nomeado por D. Manuel II em 1908. Só se entregou à revolução em 1909, quando julgou perceber que a influência clerical apenas poderia ser desfeita através de uma mudança de regime.

Bombarda ajudou a pôr as lojas maçónicas a proteger a conspiração republicana. Reis, pelo seu lado, foi a ponte dos revolucionários para chegar a muitos oficiais das forças armadas. Ambos ajudaram a criar no “meio burguês”, como disse José Relvas, um ambiente favorável à revolução.

Vitória ou morte
O suicídio de Reis é também significativo. Um revolucionário profissional teria continuado. Ele não o era. Estava reformado desde 1909, não dispunha do comando de tropas. O seu papel foi falar com oficiais da armada e do exército, convencê-los. Muita gente hesitava. Ele teve de se empenhar, de dar garantias. Tinha uma reputação de “austeridade”, de vida “espartana”.

Com Cândido dos Reis, tudo era muito sério e muito simples. Era um homem de opções violentas, que não aceitava calculismos nem transigências. Durante a conspiração, admitira várias vezes a possibilidade de suicídio, no caso de um fracasso. Era “vitória ou morte”, como gostava de repetir a cada reunião. Por isso, ressentiu imenso o facto de a revolução, esse acto que deveria ser singelo e directo, estar enredada na teia de manobras políticas do Partido Republicano.

Em 1910, alguns dos líderes do partido, como Afonso Costa ou Bernardino Machado, hesitavam em recorrer à violência, devido às suas cumplicidades com o último governo da monarquia, muito virado à esquerda. O que quer dizer que os conspiradores tiveram de contar, não apenas com a vigilância policial, mas com a falta de colaboração de parte dos republicanos.

Na madrugada de 4 de Outubro, o almirante não deve ter suportado a ideia da prisão (“acabar numa esquadra de polícia, nunca”), do julgamento, da deportação. Mais do que os tribunais da monarquia, receava provavelmente a imprensa republicana, que havia de o culpar pela precipitação e pelo fracasso do golpe. De facto, arrastara muita gente para o que, afinal, seria apenas uma farsa patética. Lembrava-se certamente de como terminara a sublevação do 31 de Janeiro de 1891, no Porto, com a imprensa republicana a renegar a iniciativa e os presos a acusarem-se uns aos outros. A Machado Santos, seu amigo, dissera várias vezes: “Se formos vencidos, os que se dizem republicanos, para que o não suspeitem, comandarão, como os outros, os pelotões de fogo que nos hão de fuzilar”. A revolução tinha sido uma aposta falhada, e que só podia emendar com um acto extremo que, mais uma vez, provasse a sua seriedade.



O mesmo, aliás, ocorreu a Machado Santos na Rotunda, por volta das oito da manhã, quando todos os oficiais e metade dos soldados fugiram, e não se via na cidade qualquer sinal da revolta popular prevista: “cheguei a pensar no suicídio”. Depois, pensou também nos sargentos e soldados que tinham escolhido continuar com ele. Não os podia abandonar. E ali ficou, com apenas 9 sargentos e menos de 200 soldados, para fazer a revolução que, naquele momento, mais ninguém em Lisboa dava mostras de querer.
O suicídio do almirante não é, portanto, um detalhe folclórico. Sugere como, para todos os comprometidos, a república não era inevitável. Os nove oficiais do exército que deviam ter comando as tropas concentradas na Rotunda não se suicidaram, mas fugiram todos. Os líderes do Partido Republicano esconderam-se, desapareceram: a maioria só tornou a ser vista na tarde do dia 5 de Outubro, já depois de proclamada a república, quando apareceram na Câmara Municipal para reclamarem os lugares no Governo Provisório.

A morte de Reis revela ainda o carácter caótico da conspiração. Estavam comprometidas várias “carbonárias”, vários grupos de militares do exército e da marinha, cada qual com os seus contactos e a sua agenda. Ninguém, de facto, fazia uma ideia completa da conjura. As comunicações também não eram boas, perturbadas pelo secretismo conspirativo e pelos acasos dos encontros. Foi assim que Reis se viu sozinho na madrugada do dia 4 e acreditou que tudo falhara. Mas este caos também salvou a revolução. Se a conspiração tivesse tido uma estrutura centralizada, dirigida por Reis, a sua morte poderia ter comprometido tudo. Assim, alguns dos outros revolucionários puderam agir por conta própria, como Machado Santos na Rotunda, ou os jovens oficiais da marinha, entre os quais o segundo-tenente José Carlos da Maia, que finalmente tomaram conta dos navios de guerra no Tejo.

A tragédia dos heróis
A morte dos dois “chefes”, Miguel Bombarda e Cândido dos Reis, teve consequências. Mais uma vez, não estamos perante uma curiosa nota de rodapé da história. O movimento e a conspiração que levaram ao 5 de Outubro não tinham sido simplesmente uma obra do Partido Republicano. Corresponderam antes à divisão e à alienação das elites da monarquia constitucional. A revolução também não foi feita pelos grandes líderes do Partido Republicano, mas organizada por dissidentes da monarquia, como Bombarda, e consumada por activistas desconhecidos, como Machado Santos.

Bombarda e Reis, vivos, teriam certamente sido membros do novo governo. Sem os seus “chefes”, a revolução acabou por cair completamente nas mãos daqueles que eram os caciques do Partido Republicano, como Afonso Costa.

Machado Santos e José Carlos da Maia, tal como Bombarda e o almirante Reis, não tinham feito a república para entregar o Estado a um partido. Não se tinham arriscado pelo Partido Republicano, mas por um novo regime que se relacionasse de modo diferente com o país, sem o sectarismo dos partidos da monarquia. Mas Machado Santos, simples comissário naval, não tinha o prestígio social e científico de Bombarda, nem José Carlos da Maia, simples segundo-tenente, os galões de vice-almirante de Cândido dos Reis. Viram, rapidamente, o Partido Republicano apossar-se do Estado, com um facciosismo muito mais violento do que qualquer situação partidária anterior a 1910. A morte de Cândido dos Reis e de Bombarda transformou aquilo que tinha sido um movimento revolucionário aberto num regime partidário exclusivista.

Machado Santos e José Carlos da Maia, ambos íntimos de Cândido dos Reis durante a conspiração de 1910, nunca se conformaram. Os seus contemporâneos acharam-nos “românticos”. Tornaram-se, nos anos a seguir a 1910, os maiores inimigos de Afonso Costa, o chefe republicano que, à frente da “esquerda” do Partido, reduziu a república uma espécie de propriedade privada sua. Repetidamente, lembraram que aquela não era a república por que haviam arriscado a vida em Lisboa em Outubro de 1910. Afonso Costa, que gostava de acusar todos os seus adversários de “monárquicos”, ressentiu especialmente a oposição que lhe faziam aqueles a quem, muito a contragosto, tinha de reconhecer o título de “fundadores da república”. Entre 1911 e 1918, Machado Santos e José Carlos da Maia alinharam com todos contra Afonso Costa. Estiveram com a chamada “direita republicana”. Juntaram-se a Sidónio Pais em Dezembro de 1917.

Pagaram por essa insistência a 19 de Outubro 1921, durante a famosa “noite sangrenta”, quando a esquerda republicana ajustou contas com os seus inimigos. José Carlos da Maia e Machado Santos, os heróis do 5 de Outubro, foram assassinados nessa noite, tal como o então líder da direita republicana, António Granjo. O almirante Reis ter-se-ia quase certamente revoltado também contra o domínio da república por Afonso Costa. Talvez a tragédia de 4 de Outubro o tenha apenas poupado à tragédia de 19 de Outubro, onze anos depois.

Fonte:
https://observador.pt/especiais/candido-dos-reis-o-almirante-tragico/


terça-feira, 10 de abril de 2018

Henrique Mitchell de Paiva Couceiro

Militar português, de seu nome completo Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, nasceu na cidade de Lisboa em 1861 e aí morreu em 1944. 
Foi oficial do Exército, participando em campanhas em África. Ficou célebre, nomeadamente, na luta contra as forças de Gungunhana. Pelos seus feitos militares, foi alvo de diversas condecorações e homenagens. Foi proclamado Benemérito da Pátria em 1896.



Anos mais tarde, em 1907, foi nomeado por D. Carlos Governador Geral de Angola. Em 1910, aquando da instauração da República, contava-se entre os defensores da causa monárquica. 
Em 1919, após o assassinato de Sidónio Pais, Paiva Couceiro vê a sua grande oportunidade de lutar pela restauração do regime em que acreditava. Assim, proclama a monarquia no Porto, tornando-se presidente da respetiva Junta Governativa. Porém, a situação não consegue perdurar e o regime republicano é novamente instaurado. 
A partir dessa altura, Paiva Couceiro retira-se da vida política, partindo exilado para as Canárias. Alguns anos mais tarde, Oliveira Salazar permite o seu regresso a Portugal onde acaba por viver os últimos anos da sua vida.

FONTE:
https://www.infopedia.pt/$henrique-de-paiva-couceiro

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